terça-feira, 27 de agosto de 2013

VOCAÇÃO UM CHAMADO DE DEUS

Vocação é um segredo de Deus sussurrado no coração da mulher e do homem. Ninguém descobre, totalmente, os mistérios deste segredo, mas pelo fato de tê-lo ouvido, ousa arriscar tudo. Nele, a certeza da felicidade não é comunicada. O que é comunicado é o desafio. Sim, o desafio de doar-se para que outros vivam. Vocação é o desafio de doar-se em comunhão com Deus para que todos sejam felizes. Por isso, exige fé. Ou você crê que ouviu este chamado e que ele provém de Deus, ou não tem entusiasmo para se arriscar. Este entusiasmo é a paixão do vocacionado. Todo vocacionado é um apaixonado procurando sua paixão nos rostos do mundo inteiro. E servindo-os. Humildade e paixão são as características de quem ouviu este chamado. Só o humilde serve. Só serve bem quem serve com paixão. Ninguém é melhor por receber uma vocação específica, mas pode construir um mundo melhor no cultivo deste segredo. É nisto que aposta o vocacionado, porque Deus apostou nele, assim como aposta em cada ser humano.

Segredo é a palavra que estou usando. Talvez ela diga pouco e não seja tão clara para explicar o que, de fato, é vocação. Será que estou enrolando? Não, amigos! Estou tentando dizer que vocação não se explica apenas com os recursos da compreensão humana tecno-científica pragmática; que se trata de um toque divino no âmago humano; que é um grande encontro sucedido por muitos outros; que é um caminho humano com olhar no divino; que é um ato de fé no amor de Deus e no amor humano. Segredo é isto: algo que alguém contou para alguém e que este outro não poderá dizer. No caso das relações humanas, não se deve contar a outrem devido a um príncípio ético fundado na confiança. No caso deste segredo provir de Deus, trata-se de uma coisa que o sujeito sabe, mas não sabe dizer o que sabe. É como se Deus revelasse e ocultasse, desse e recolhesse, comunicasse e tornasse apenas seu.

Se é assim, como uma pessoa pode dizer que é chamada a uma vocação específica e assumir os compromissos desta vocação? Pergunta astuta! É angustiante não poder estar perto da paixão de nossa vida. Como fogo que arde e queima, a paixão desmonta o coração e o remodela segundo quem nos roubou. Mas este calor pode passar e precisa ser cuidado para a chama não se esvair. Já prestou atenção numa fogueira, certo?! O fogo existe enquanto alguém sempre cuida. O fogo dura enquanto lhe é acrescentado lenha, enquanto as brasas são mantidas acessas. A vocação é similar. Sem a relação, esquece-se o segredo e a importância dele. Cada vez que alguém intensifica sua relação com Deus, com o outro, vai obtendo clareza de qual lhe é o chamado próprio e específico. Alguém pode dizer que é chamada a uma vocação específica quando entendeu que a atmosfera de sua existência está plasmada pelos horizontes de tal vocação. Que haja outros desejos não contemplados nas propriedades de uma vocação, é normal, pois toda escolha inclui e exclui possibilidades. Destarte, o horizonte permanece. Se for ele o que nos instiga na caminhada, o que não lhe configura, não lhe é essencial. Portanto, não é empecilho para ser feliz, descartar algo que também desejaríamos por causa do anseio maior. Vocação está dentro deste Maior. Como dissemos, é o horizonte de toda nossa vida.

Lembrando, ainda, que este segredo pode ser comunicado e aprendido de diversas formas. Temos relatos muito belos de vocações que nascem em determinado momento, numa situação específica, num lugar particular. Outras que nasceram de uma experiência mística, mas também numa situação de indignação ou limite. Porém, o que importa é o chamado e quem faz isto é Deus. Então, não é necessário preocupar-me se Deus me chamou com suas próprias palavras, numa manifestação especial, num momento extraordinário ou se foi me chamando no decorrer a minha história. Não. Importante é entender o porquê Ele chama. Para onde me conduz Seu segredo: à vida religiosa, laical, presbiteral, matrimonial? Para que? Para constituir uma família? Para ser pastor/a de uma comunidade? Para socorrer os mais necessitados? Para uma consagração que implique castidade, pobreza, obediência? Para pregar o Evangelho? Para ser missionário em outros lugares? Se Deus me chama e eu entendo este segredo, então entendi, também, onde está a minha felicidade e devo fazer de tudo para concretizá-la, pois a grande vocação da qual participam todas as mulheres e todos os homens é a santidade. Santidade nada mais é do que a felicidade plena.

Aldevir Jandres

Assistente Espiritual Jufra/RS – OFM Cap.

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